domingo, 23 de setembro de 2007

Cenários para o Futuro da globalização: do contexto actual ao contexto extremado.

Quando falamos em relação ao futuro, temos que ter noção de que é algo sempre incerto, tendo nós sempre de falar por suposições, do que ocorrerá se se mantiverem os mesmos padrões de hoje em dia.

Desta forma destacamos então qual será a situação no futuro se a globalização continuar com os ritmos actuais, em vários pontos chaves.

A nível da produção económica

Situação actual:

  • A divisão social e internacional do trabalho tem vindo a ser substituída por uma divisão técnica do trabalho.
  • Descentralização da produção.
  • Desmaterialização de mercadorias.

Situação extremada:

  • Equilíbrio da actividade produtiva em qualquer localidade, determinada só por vantagens físico – geográficas

A nível do comércio

Situação actual:

  • Barreiras tarifárias mínimas
  • Substanciais barreiras culturais e não tarifárias
  • Neomercantilismo regional

Situação extremada:

  • Liberdade absoluta das trocas entre localidades
  • Fluxos indeterminados de serviços e de mercadorias simbólicas

A nível dos mercados financeiros:

Situação actual:

  • Globalização em larga medida alcançada

Situação extremada:

  • Descentralizado, instantâneo e “desestatizado”

A nível do mercado do trabalho:

Situação actual:

  • Regulamentação estatal crescente
  • Pressão individual considerável para oportunidades de migração económica

Situação extremada:

  • Livre circulação do trabalho
  • Inexistência de identificação permanente com a localidade

A nível das formas de organização do trabalho:

Situação actual:

  • O paradigma da flexibilidade tornou-se ortodoxo, mas permanecem práticas fordistas.

Situação extremada:

  • Resposta flexível para os mercados globais

A soberania do Estado:

Situação actual:

  • Crise e enfraquecimento do Estado.
  • Evidência da agregação e descentralização dos poderes do Estado.

Situação extremada:

  • Ausência de Estados soberanos
  • Vários centros de poder em nível global, local e intermédio.

A nível das organizações internacionais:

Situação actual:

  • Multiplicam-se, embora com relativamente menos poder.

Situação extremada:

  • Poderosas: predominantes sobre as organizações nacionais.

A nível das relações internacionais:

Situação actual:

  • Enfraquecimento do sistema de superpotências.

Situação extremada:

  • Relações internacionais fluidas e multicêntricas.

A nível dos esforços para a resolução de problemas:

Situação actual:

  • Incidência crescente do binómio globas-local.

Situação extremada:

  • Questões locais no contexto da comunidade global.

O caso Português



Falemos agora da globalização mas no que concerne ao nosso país.

Para falarmos de Portugal e da Globalização é fundamental fazermos referência a Boaventura Sousa Santos e António Barreto pois têm sido quem mais tem estudado o processo de globalização.

O incremento da globalização foi algo que só ocorreu nos últimos anos, pois não podemos esquecer que vivemos uma ditadura, que em muito contribuiu para o actual atraso que temos face aos outros países da União Europeia.

Durante a ditadura o nosso país era caracterizado por uma grande homogeneidade, pois esta determinava o modo das pessoas se comportarem, havia um elevado grau de analfabetismo, uma ausência de democracia e a existência de um estado centralizado.

O nosso sistema capitalista era débil, não tínhamos competitividade internacional.

Tínhamos uma forte incidência de pobreza numa sociedade dualista.

De acordo com António Barreto as mudanças não se situam após o 25 de Abril, mas antes no início da década de 60

Temos então nesta época uma conjugação de factores sociais e culturais, que levaram as desencadear das mudanças, nomeadamente a imigração para França. O impacto desta não se faz sentir apenas pela entrada de remessas monetárias mas também pela mentalidade que vai sendo moldada.

A progressiva abertura ao exterior, proporcionada pelos emigrantes é um dos principais factores de transformação social que contribuiu para o 25 de Abril.

Foi após o 25 de Abril que as mudanças se tornaram mais visíveis, apesar de já ocorrerem antes.

Segundo Wallerstein que efectuou uma análise das relações comerciais e cientificas que se estabelecem entre países do centro, de periferia e de semi-periferia, Portugal situa-se no centro, mas esta posição é apenas pela sua integração na União Europeia.

Segundo Boaventura Sousa Santos, Portugal é semi-periférico tem a imaginação do centro, isto é, temos as expectativas dos outros Europeus o que cria uma sensação de frustração por não podermos ter o mesmo nível de vida.

Para António Barreto, Portugal está na periferia do centro, ou seja, em termos políticos e culturais pertencemos à Europa e temos um consumo e mentalidade em tudo semelhante à Europa.

Isto quer dizer que Portugal tem um padrão de desenvolvimento intermédio, tem características que o aproximam dos países mais desenvolvidos e características que o aproximam dos países menos desenvolvidos.

Como já vimos no que concerne à Legislação, mentalidade, práticas e expirações de consumo, padrões, é igual aos países desenvolvidas, mas no que diz respeito ao nível de capacidade Industrial, técnica, produtiva e científica estamos próximos dos países em vias de desenvolvidos.

Em termos sociais em vez da homogeneização característica da época da ditadura, temos agora uma heterogeneidade, devido à forte entrada de estrangeiros no nosso país, passando o nosso país a ser receptor em vez de emissor.

Consideremos que nos últimos 30 anos o nível de vida dos Portugueses melhorou bastante, só que as desigualdades sociais aumentaram também, bem como a pobreza.

Desta forma consideramos que a globalização foi algo benéfico para o nosso país hoje vivemos em democracia e com uma acesso facilitado a todos os meios de informação, desde a Internet à televisão, o que nos faz ter padrões iguais aos do resto dos europeus, só que a nível social os efeitos não foram contidos e o aumento da pobreza e das desigualdades sociais fez-se sentir.

Globalização contra – hegemónica (O caminho)


No que concerne à globalização contra hegemónica, esta caracteriza-se por não se inserir na globalização dominante, afasta-se e luta contra a globalização hegemónica.

A opinião pública mundial começa a dar vida a milhares de organizações não governamentais, que vão resistindo à globalização hegemónica e formulam alternativas.

Estas organizações têm em comum a ideia de que a dignidade humana é indivisível e só pode florescer em equilíbrio com a natureza.

Temos duas formas de Globalização contra – hegemónica, o Património comum da Humanidade, ou a emergência de temas, que pela sua natureza, são tão globais como o próprio planeta e são geridos pela comunidade internacional.

A segunda forma é o Cosmopolitismo, caracteriza-se por grupos ou classes que se organizam na defesa de interesses percebidos como comuns. É uma forma de resistência aos localismos globalizados e aos globalismos localizados, isto é, uma resistência à globalização hegemónica.

Globalização hegemónica

Para falarmos da globalização hegemónica temos que dizer que esta é aquela que domina, que é composta por a Tríade de Democracia, Neo-liberalismo económico, e o modo de vida americano.

Actualmente a globalização hegemónica é insustentável.

Existe uma contradição insanável entre a economia neoliberal e o bem-estar da maioria da população mundial.

A liberalização das trocas sem condições é como um combate de boxe entre um peso-pesado e um peso-pluma, onde os países do centro, tem sempre supremacia sobre os países da periferia, saindo estes últimos sempre em desvantagem.

Se os países, endividados em dólares, pudessem resistir à desvalorização das suas moedas não veriam as suas dívidas aumentar por mero efeito da desvalorização.

Esta globalização tem duas formas, a primeira é o Localismo Globalizado, que se trata do processo pelo qual determinado fenómeno é globalizado com sucesso, temos como exemplo a Mcdonald’s e a língua Inglesa, algo que começou por ser localizado e passou a ser globalizado, persiste no tempo.

Seguidamente temos o Globalismo localizado, que é o impacto específico de práticas e imperativos transnacionais nas condições locais.

Os benefícios da globalização ao longo da historia


Quando falamos em termos de globalização, e já quando falei nas origens desta, destaquei que já na aurora dos tempos esta se mostrava.

Assim sendo farei uma breve alusão e alguns períodos históricos que considero importantes para constatar os benefícios da globalização ao longo da história.

A globalização começou antes de Cristo, onde a civilização Helénica e a civilização Romana permitiram a expansão do mercado entre cidades tão distantes como o Norte de África, o Norte da Europa e o Meio Oriente. Estas trocas foram possíveis, claro, devido ao mar Mediterrâneo. Em maior ou menor escala todas as regiões participaram neste processo e viram-se beneficiadas com o aperfeiçoamento das suas técnicas, através da aquisição de conhecimentos que adquiriam nas trocas que se efectuavam entre as diferentes civilizações, o que ao longo dos tempos levou a uma melhoria da qualidade de vida dos Homens naqueles tempos.

Nasceu então nesse tempo a Filosofia, a Matemática, a Medicina, a Geografia, a Astronomia, o Direito, e os sistemas de Governo Democráticos, que se foram expandindo ao redor do mundo. Começando na Grécia toda a civilização e que foi mais tarde dominada pelos Romanos que aproveitaram grande parte do desenvolvimento que os Gregos já tinham alcançado.

Exemplo desta expansão é o alfabeto que hoje utilizamos, tendo sido seus criadores os Fenícios, expandiu-se de uma forma rápida por todo o mundo, este povo havia também naquele tempo criado uma extensa rede de rotas de navegação.

Aquando da Idade Média devido a varias conjecturas desde Guerras, fomes e Pestes a Europa viveu um período de “escuridão”, onde a evolução alcançada pelos povos bem como a globalização retrocedeu.

O comércio dava-se a nível local e cada região da Europa fechou-se em si mesma. Perdeu-se o contacto que até então existia entre os povos.

A globalização desapareceu arrastando consigo instituições, leis, normas, culturas, para ficarem apenas retratadas em livros ao cuidado de monges nos mosteiros à espera do Renascimento, momento em que se inicia o lento processo que nos levaria até à globalização actual.

A que reter que sempre ao largo da história aqueles cujos monopólios e privilégios se viam afectados pela liberalização do comércio, opunham-se a essa mesma liberalização.

A favor da globalização



Assim como existem vozes que se erguem para falar contra a globalização, temos também que dar a conhecer as opiniões que falam a favor da globalização.

Esta deve ser tomada como uma possibilidade de desenvolvimento e crescimento, mas este não surgirá de forma automática, como se se trata-se da aplicação de uma simples receita.

Está condicionada por o tipo e formas de medidas que se adaptam.

Podemos resumir dizendo que a globalização é potencialmente benéfica, sempre e quando se tem em conta as características e o contexto de cada país e região.

Esta pode beneficiar os países se gerida correctamente, pois a abertura ao comércio internacional permite a numerosos países crescer rapidamente.

Actualmente e graças à globalização as pessoas vivem mais e com um nível de vida mais elevado.

Tomemos como exemplo os países do Este Asiático que adoptaram a globalização sob as suas próprias condições e o seu próprio ritmo, desta forma conseguiram crescer rapidamente sendo esta um benefício enorme.

É fundamental que os países tenham consciência do leque de opções dentro das quais se podem mover e em função disso tentar adoptar a que mais lhe convir, independentemente das opções feitas pelos outros países que dominam o sistema económico mundial.

Trata-se de criar as condições macroeconómicas e o ambiente de negócios propício para que seja possível o desenvolvimento, crescimento e produtividade com acesso a meios de funcionamento que permite competir com outros países do mundo e modernizar-se para que estes possam instalar-se no contexto internacional.

É essencialmente decidir sem políticos corruptos, sem leis e normas incoerentes que avançam e retrocedem, conforme os partidos políticos que estão no poder, que fazem desincentivar os investimentos que inicialmente haviam sido incentivados.

É notório que a globalização gera desigualdades sobretudo a nível social, mas para muitos defensores a solução não é evitar a globalização mas sim conter os seus efeitos adversos.

Trata-se de remediar as suas falhas e potenciar as suas virtudes e aí o saldo da equação custo-benifício será positiva.

Descuidar os efeitos da liberalização económica sobre certos sectores sociais, que não estão aptos para se adaptarem a mudança, poderia gerar perigosas consequências políticas para a humanidade, como aconteceu na década de 30 na Europa com o surgimento dos nacionalismos.

Sempre em todos os momentos da história os sectores que se viam prejudicados, opõem-se à mudança e não foi por isso que se retardou o progresso.

O correcto é efectuar de todos os modos as reformas pertinentes, para ao mesmo tempo levar adiante politicas de contenção dos sectores excluídos para encobrir a sua perda de benefícios e assim reduzir o seu natural e lógico conformismo.

Críticas à globalização económica

Críticas à globalização económica

Quando se fala em globalização existem logo vozes que se levantam contra esta.

As principais criticas que se fazem a globalização é o facto de esta ser injusta, pois não se realiza de uma forma universal nem homogénea e muito menos se expande de forma igualitária. Assim sendo a globalização não é para todos, só participa dos seus benefícios um terço da população.

Para tal podemos aqui expor dados que demonstrem isto mesmo. Em 6.500 milhões de pessoas, 3.000 milhões ganham menos de 2 dólares por dia e outros 1.500 milhões, menos de 1 dólar por dia.

Podemos ainda destacar que, as três pessoas mais ricas do mundo têm activos superiores ao PNB somado dos 48 países mais pobres.

Como já aqui fiz referência existe um processo de globalização de uma cultura sobre as outras em particular do modo de vida Norte-americano – Walt Disney, Mc Donald’s e Coca-Cola – sobre outras culturas o que para alguns críticos tem como implicações a perda das identidades locais.

Isto inviabiliza fortemente a dimensão económica dos países e os seus sistemas produtivos que se mostram obsoletos para assimilar novas necessidades que se geram nos consumidores locais, produto da globalização. Assim as estruturas produtivas obsoletas dos países subdesenvolvidos vêem-se forçados a desmantelar-se com consequente aumento do desemprego.

Em varias situações, tiremos como exemplo a agrícola que é a base de qualquer economia, só os países do chamado Núcleo, ou desenvolvidos, têm capacidades tecnológicas e os recursos necessários para realizar investimentos tecnológicos e cooperam entre si, afim de solucionar vários problemas que lhes vão surgindo.

Em oposição os países pobres, da periferia, tem pouca interacção entre si e continuam a tentar por si só construir a sua identidade de Estado. Desta forma a globalização tecnológica que baixa custos e melhora os meios de cultivo dos alimentos não chegou a todos os países do mundo por igual.

Á medida que, fruto da globalização, o mundo passa de uma economia agrícola a uma industrial e desta para uma de informação, as limitações e falhas dos mercados explicam cada vez mais o aumento do desemprego, e os mercados mostram-se incapazes de poder administrar os seus recursos eficientemente.

Por outro lado a liberalização dos sistemas financeiros implicou que muitos bancos locais fossem adquiridos por bancos estrangeiros em países subdesenvolvidos, os quais dificultam o acesso ao crédito das pequenas empresas locais, pois esses bancos são mais propensos a emprestar dinheiro a empresas transnacionais o que provoca a quebra das pequenas empresas locais e o consequente aumento do desemprego.

O sistema financeiro mundial com livre mobilidade de capitais incrementou a vulnerabilidade de muitos países a crises externas e aos caprichos dos investimentos especulativos.